Desta vez não se trata da “marvada” pinga ou da “marvada” carne: estou falando da “marvada sardade”.
Saudade pode ser muito boa: saudade da época da faculdade, das bagunças no bar do “china”! Saudade das aulas da Malena, da galera segurando o pescoço no laboratório nas aulas de fono da Roselyn, das risadas da Camila! Saudade das noitadas ao som da banda Insônia, saudade da viagem para Nova Iorque com a Egrégora! Saudade do cheiro da cantina do colégio!!! Yammy!!! Saudade do Paulinho, do Marcone, da Rê e do Evair, todo mundo torcendo pro Palmeiras! Saudade das broncas da inspetora quando pegada a gente no maior flagra fugindo das aulas da Hideko!! Afiiii eita saudade boa essa!
Mas tem saudade que não é boa não. Aquela saudade de alguém que você perdeu, não importa como. Essa saudade dói. A dor passa, eventualmente. Mas dói pra burro.
Agora tem aquela saudade que é FDP, sabe (perdoem meu francês)? Aquela saudade de uma história que você não viveu, com alguém que você não vai ter. Saudade de uma história que você sabe que seria boa, mas que não aconteceu. Não rolou e nem vai rolar. Essa dói no corpo, na alma, no sangue. Chega e fica. Nem o bode preto é páreo para ela. O bode preto, aquele da deprê! Vai me dizer que você nunca “amarrou um bode preto” do lado quando estava triste, ou de ressaca? Aposto que já. Pois essa outra saudade é pior que o dito cujo. Ela chega, desamarra o bode e faz ares de “daqui eu não saiu, daqui ninguém me tira”. Como se ao meu lado fosse seu lugar de fato e de direito! Aboleta-se aqui e não sai. E eu, fico sem o bode.
E qual é a saída? Não posso com ela, me junto a ela. O jeito é negociar: “olha aqui, “marvada”, já que você não vai embora mesmo, podíamos ao menos negociar os horários. Durante o dia você me dá uma folga, porque afinal uma de nós precisa trabalhar”. Ela torce o nariz, mas acaba aceitando. Embora, vez por outra, tipo na hora do almoço, no trânsito, sempre dá o ar da graça. Á noite também é complicado. Ao abrir a porta quando chego lá está ela: no meu canto preferido do sofá. Só falta abrir uma garrafa de vinho para beber sozinha. Mas, isso eu também já deixei bem claro: “me deixa ao menos beber sozinha”! Parece que ela entendeu. E quando ela insiste eu finjo que estou prestando atenção em Gray´s Anatomy ou qualquer outra coisa, só para não dar moral para ela. E tem a pior hora do dia: hora de ir para a cama. Não, ela não dorme no outro quarto. A “marvada” saudade insiste em enfiar-se na minha cama. Quer doer mais um pouco e impedir que eu durma logo. Imagina! Tenho que “fritar” no lençol ao menos uma horinha! Agora estou tentando um acordo: “saudade, uma de nós deve ir para a cama primeiro que a outra. Assim, quem sabe melhoramos nossa convivência?” E assim, seguimos juntas. Um dia ela está mais cansada de tanto me atormentar e cai no sono parecendo uma jaca podre. No outro, sou eu. E se o sono não vem nada que um Naldecon Noite ou uma taça de vinho não resolva.
Falando nisso, acho que vou abrir aquela garrafa de vinho branco agora. A saudade hoje está atacada e pelo jeito não vai dormir tão cedo. O melhor que eu tenho a fazer é pegar no sono antes que ela venha me fazer companhia na cama. Boa noite.