domingo, 10 de julho de 2011

Flexibilidade da língua II




Estava eu degustando minha refeição leve e saudável, mesa ao ar livre, temperatura agradável, uma vez que hoje não fez aquele frio “dos infernos”, quando começo a ouvir o diálogo de duas moçoilas na mesa ao lado.

Uma delas dissertava efusivamente sobre o que acreditava ser a melhor idade para uma mulher contrair o matrimônio, iniciar a prole, etc. De acordo com ela “a melhor idade pra mulher se casar é quando tem 30 anos. “Não, porque aí ela já tem experiência, já estudou, já comprou até a casa própria...num é?” dizia. E a amiga, muito mais interessada na vida pessoal dela do que em sua opinião particular sobre o que quer que fosse, mandava ver nas perguntas: queria saber quando ela havia se casado, quando teve o primeiro filho, quem havia bancado a casa, e por aí vai.

A amiga quase em êxtase e com ar de superioridade enquanto respondia, cheia de orgulho, disparou: “.... aí agente resolveu ter filho, mas foi besteira minha que caí na dele. Eu ainda queria terminar de estudar mas ele queria demais. Eu concordei pra não criar “pobrema”. Tudo bem que quando meu filho tava mais velho eu fiz minha pós...” A outra exclamou: “ah você já fez até pós, é?” Continuação do diálogo: “fiiiiiizzzz, não sabia? Fiz sim, menina. Deu pra ir até o fim, mas com filho e marido...olha se eu tivesse “discubrido” antes que ia ficar puxado, tinha esperado era pra ter filho!”

Sim: “pobrema” e “discubrido”. Conclusão: os tímpanos começaram a doer, a salada ficou entalada na garganta, as mãos já não seguravam os talheres porque foi me dando tremedeira. Contei até dez para não virar e pedir a ela o nome das instituições de ensino pelas quais ela havia passado. Tentei não prestar mais atenção ao diálogo porque temia o que meus ouvidos ainda poderiam testemunhar, e meus pensamentos se voltaram para o nível do ensino no Brasil.

De quem seria a culpa? Da moça, que não se preparou e não estudou como deveria? Das instituições de ensino que não souberam avaliar o nível de aprendizado dela? Dos professores? Dos políticos? Do sistema? Minha? Sua?

E depois vem o MEC falando em flexibilidade da língua.

2 comentários:

  1. Rsrsrs... é, diante dessa tal flexibilidade da língua, é melhor começarmos a treinar a flexibilidade dos tímpanos também. Que tal?

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  2. kkkkkkkkkkkkk excelente ideia, Tati!

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